EU JÁ POSSO MORRER EM PAZ
10/06/2009
18:38
Ontem meu primeiro fio de cabelo branco surgiu,
A minha memória não lembra mais seus traços, só tua ausência,
Meu ser evoluiu, minha alma se libertou,
Eu aprendi a me esquecer e já posso morrer em paz.
Hoje eu fiz um novo amigo, disse a este que o amava,
Dei minha vida por outro e já posso morrer em paz,
Eu aprendi a amarrar meus sapatos e vestir minha pouca roupa,
Eu consigo dominar meus medos e controlar minhas limitações.
Eu li a obra mais perfeita e escutei o mais silencioso dos sons,
Eu entendi o plano da morte e já posso morrer em paz,
Hoje eu briguei com Deus, comigo mesma e com a desigualdade,
Briguei com a mentira, com a injustiça e com Maria. Nem briguei!
Ontem beijei de leve, beijei com tudo, beijei pra sempre,
Amei mais um homem imperfeito e amanhã amarei outro igual,
Chorei de saudades deste primeiro e este outro nem sei mais,
Posso ficar com os dois ou posso morrer em paz.
Sorri para uma criança, abençoei outra... e abençoei meus erros também,
Vi milagres em mim e também presenciei os seus,
Fui sublime, humana, e já posso morrer em paz.
Sorrio largo e espaçado e até sorri para o espelho.
Hoje eu fui amada, odiada e imortalizada também,
Repousei na sua cruz e senti seus medos vertendo em mim,
Fui rainha, donzela e anciã,
Fui Carmen e já posso morrer em paz.
Seus olhos (pequenos) me observam de longe, de perto e de todos os ângulos,
Eles me desejam sem compromisso, sem falsos desejos,
Você diz coisas belas, cheias e rasas, profundas.
Você fala do amor e fala de mim... pra mim.
E agora eu me sinto aos pés da montanha que não pode ser escalada,
Sou presente como os anseios, precisa como ar e sua como deve ser.
Hoje um simples gesto seu me trouxe de volta. "Ainda estou aqui!"
Sinto que a saudade me manterá viva por mais um tempo e eu mereço viver em paz!